segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

MOJUD E A VIDA INEXPLICÁVEL

Mojud era um funcionário de uma repartição pública em uma
pequena cidade do interior. Não tinha qualquer
perspectiva de um emprego melhor, e seu país atravessava
uma grande crise econômica, e Mojud já estava resignado
em passar o resto de sua vida trabalhando oito horas por
dia, e tentando divertir-se durante as noites e os finais
de semana, vendo televisão.
Certa tarde, Mojud viu dois galos brigando. Com pena dos
animais, foi até o meio da praça para separa-los, sem
dar-se conta que estava interrompendo uma luta de
galos-de-briga. Irritados, os espectadores espancaram
Mojud. Um deles ameaçou-o de morte, porque o seu galo
estava quase ganhando, e ia receber uma fortuna em apostas.
Com medo, Mojud resolveu deixar a cidade. As pessoas
estranharam quando ele não apareceu no emprego – mas como
havia vários candidatos para o posto, esqueceram rápido o
antigo funcionário.
Depois de três dias viajando, Mojud encontrou um pescador.
- Onde você está indo? – perguntou o pescador.
- Não sei.
Compadecido da situação do homem, o pescador levou-o para
sua casa. Depois de uma noite de conversas, descobriu que
Mojud sabia ler, e propôs um trato: ensinaria o
recém-chegado a pescar, em troca de aulas de alfabetização.
Mojud aprendeu a pescar. Com o dinheiro dos peixes, comprou
livros para poder ensinar ao pescador. Lendo, aprendeu
coisas que não conhecia. Um dos livros, por exemplo,
ensinava marcenaria, e Mojud resolveu montar uma pequena
oficina. Ele e o pescador compraram ferramentas, e passaram
a fazer mesas, cadeiras, estantes, equipamentos de pesca
Muitos anos se passaram. Os dois continuavam a pescar, e
contemplavam a natureza durante o tempo que passavam no rio.
Os dois também continuavam a estudar, e os muitos livros
desvendavam a alma humana. Os dois continuavam a trabalhar
na marcenaria, e o trabalho físico os deixava saudáveis e
fortes. Mojud adorava conversar com os fregueses Como
agora era um homem culto, sábio, e saudável, as pessoas
lhe pediam conselhos. A cidade inteira começou a progredir,
porque todos viam em Mojud alguém capaz de dar boas
soluções aos problemas da região. Os jovens da cidade
formaram um grupo de estudos com Mojud e o pescador, e
logo espalharam aos quatro ventos que eram discípulos de
sábios. Um dos jovens perguntou, certa tarde:
- Mojud resolveu abandonar tudo para dedicar-se a
busca da sabedoria?
- Não – respondeu Mojud. – Eu tinha medo de ser
assassinado na cidade onde vivia.
Mas os discípulos aprendiam coisas importantes, e logo
transmitiam à outras pessoas. Um famoso biógrafo foi
chamado para relatar a vida dos Dois Sábios, como eram
agora conhecidos. Mojud e o pescador contaram o que
tinha acontecido.
- Mas nada disso reflete a sabedoria de
vocês – disse o biógrafo.
- Tem razão – respondeu Mojud. – Mas é a
verdade. – Nada de especial aconteceu em nossas vidas.
O biógrafo escreveu durante cinco meses. Quando o livro foi
publicado, transformou-se num grande êxito de vendas. Era
uma maravilhosa e excitante história de dois homens que
buscam o conhecimento, largam tudo que faziam, lutam contra
as adversidades, encontram mestres secretos.
- Não é nada disso – disse Mojud, ao ler sua biografia.

- Santos precisam ter vidas excitantes – respondeu o
biógrafo. – Uma história tem que ensinar algo, e a
realidade nunca ensina nada.
Mojud desistiu de argumentar. Sabia que a realidade era o
que ensinava tudo que um homem precisa saber, mas não
adiantava tentar explicar isso.
"Que os tolos continuem vivendo com suas fantasias",
disse para o pescador.
E ambos continuaram a ler, escrever, pescar, trabalhar na
marcenaria, ensinar os discípulos, fazer o bem. Só
prometeram nunca mais tornar a ler livros sobre vida de
santos, já que as pessoas que escrevem este tipo de livro
não compreendem uma verdade bem simples: tudo que um
homem comum faz em sua vida o aproxima de Deus.

2 comentários:

  1. Menságem linda.
    Uma ótima lição de conhecimento e humildade
    Parabénes

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  2. O caminho é como uma pedra de ouro, sobre uma jazida ainda não conhecida. É preciso alcançar a essência de si mesmo para poder obter-se o êxito do inconcebível.
    www.billyseixas.com.br

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